Poetas do Pastel de Nata


"Óh vates, perdoai-lhe a ousadia
a este pobre bardo que se chega;
donde vem só traz uma azevia
pra onde vai está a pedir refrega.

"Estava degustando o pão de rala
aguardando o gelado de abacate;
saboreara arroz doce com canela
depois d'um "chiffon" de chocolate.

A sericaia trouxeram, sem ameixa;
achou pequena a dose de encharcada;
com um merengue aproveitou a deixa,
logo pediu uma tarte de massa folhada.

O toucinho-do-céu já fora divinal,
de Priscos o pudim trouxe o abade;
dessas artes não provar ficaria mal,
são doces guloseimas sem maldade.

Provara o bolo de mel madeirense
acompanhado por copo de malvasia;
ainda recordava o pastel belenense,
eis quando o desafiou a companhia:

"Abalemos, não é tarde nem é cedo,
rumemos, pra voltar não temos data;
qualquer doce vereis que sabe a azedo
se o comparais a flórido pastel de nata.

"Do Lubango a mais afamada pastelaria,
nas suas mesas acabavam todas as dietas,
as doçuras libertando, em doce fantasia,
Flórida de seu nome, tertúlia de poetas.