Viva Maconge!


Neco, meu Grande da caricatura,
Artista com a pena e na Literatura,
Amigo te queremos neste arimbo
e ainda bem que já lá vai o cacimbo
e que navegar podemos em pirogas
haja festas sem milongas nem drogas...

Disparando setas com que o Soba alvejas,
quase atingindo o ponto que desejas,
que ele, bravo, com escudo de couro repele
(que em vida a rinoceronte serviu de pele),
falhando o alvo a tua poética ironia
triste não fiques com a falha pontaria...

Para mim deixa dessa tarefa um pouco,
de mandar bocas e zombarias como um louco,
que gostosamente, como bom mukuaukula,
o Soba terá cada conselho que até pula!

(...)

A Alegria que todos partilhamos
nas Ceias, nos batuques sem amos,
pelo Amor, pela Fraternidade,
em Maconge, é Amizade,
riso, Poesia e elevação,
é a Alma e a Vida do coração!

As Fazendas Do Meu Soba


O nobre soba de Portimão
filho da nossa querida Huíla,
das estirpes que ela destila
tem bons tecidos de algodão...

Entre missangas sortidas,
de coral falso e verdadeiro,
campainhas e outras miudezas,
conchas raras, e outras belezas
em profusão do seu tinteiro
de samacacas coloridas...

Chitas, zuartes, fazenda de lei,
pintadas, lenços, riscado,
algodão cru, baeta; mais não sei...
Tantas no baú tem guardado!

"De trinta quilos faria um fardo;
se ordinária for a fazenda, as jardas
contar-se-ão seiscentas e vinte e quatro;
mas cento e oitenta serão,
se de boa qualidade for o algodão..."(*)

Esplendoroso entre as meninas,
o Soba a todas acolhia,
com grande simpatia,
poderoso e mui afamado.
Mesmo sem armas lazarinas,
com Amor envolvido em panos,
assim prossiga por muitos anos,
porque é um Grande Sobado!

(*)(Assim alto falava durante o sono, em véspera de Ceia, preocupado com certos panos...)

Amizade Macongina


O que Maconge me arranjou
- foi uma Amizade grandiosa,
uma Vida bela e formosa;
o que só agora começou!

Meu querido irmão Macongino
que me abençoaste conselheiro
pois para tanto me achaste tino:
assim me terás sempre inteiro!

(...)

Anda, comigo vem à Chitaca
do meu sogro Tchikela-milola;
lá onde a alma se consola,
lá onde o trabalho se destaca.

Em socalcos madeirenses,
no Bimbe, em encosta bela.
No alto do planalto da Chela,
sempre mais belo do que penses...

(...)

Em África o Amor primeiro
e o último, a cada instante,
nasceu imenso corpo, inteiro,
com Alma de voz tonitroante,
e nos frutos de intenso aroma,
arrebata-se a Vida que nos toma!

Um Kimbo Bem Recheado...


Ó meu Soba, da mui bela Olisipo!
Que de belas o Kimbo anda cheio!
Tens nessa fortuna mui bom recheio,
e quem vai, só te pode dizer "Lalipo"!

Tchipululo, tchipululo
já não tem este sékulo...
Se o Bispo tem bom petisco,
piedade tenha de um frade...
No kimbo do irmão Lello
já levei cartão amarelo!...

Uma Rebeldia...


Coisas de lamber e não se esquecer,
umas de provar, outras de sorver,
sorvidas umas já foram, outras servidas serão,
em serão para os que forem,
para os que não, isso é que não!

Bem ocultando as castas,
provados lá foram cinco,
em garrafas de bom tinto,
foram escolhidos e votados,
p'los eleitos do soba degustados...

Foram-se ignorando "Basta!"'s:
néctares em rodadas selectivas,
pelo apreço pelos convivas,
que nenhuma dúvida ficasse,
o júri que se emborrachasse!

Veio o Bispo falar em multa,
com a autoridade do Clero;
aqui apresento a mea culpa,
pronto a afundar-me no Bero...

Se a Lei Seca vingasse,
explodiria a Rebelião!
D. Giraldinus me multasse
p'lo crime de beber do garrafão!

(...)

O Júri que o vinho escolheu,
naquele tal dia afamado,
pelo Soba convocado,
tem multa que o Bispo prometeu!

Pois se antes de abençoado
não houvesse um malfadado
qualquer pobre que o provasse,
quem, pelo Clero, tombasse?

(...)

Marafado está D. Giraldinus
por causa da prova do vinus...
Tão grande vai esta teima
que arriscamos a grã coima...

Inda arrisco à condenação
a provador de azedume...
Isso não quero, meu irmão:
peixe fora do cardume...

Porque azedo só o vinagre
não queremos que o proves;
para o fundo do rio vai o bagre,
pró alto nossa confiança renoves!

(...)

Vem este humilde provador,
um plebeu, frade e servidor,
contestar vosso douto juízo
(que não por falta de sizo...).

Rebaldaria é que não houve
nem sequer folha de couve;
houve mesmo muita ciência,
que saiba Vossa Eminência.

Após escolha da metodologia
o júri foi votando, sem razia.
Escrutinou-se com cautela,
e nunca à-lá-boa-vai-ela...

Sem despique ou concorrência
prá competência de V. Eminência,
pronto, eis-me condenatum est,
mas nunca sem um protest(o)...

E na minha fraca opinião,
de destemido Macongino,
aqui te lanço meu irmão
com um abraço de menino:

Para uma Ceia começar
um Bispo de tanta Ciência
vai um bom vinho abençoar
e tem de ter grande paciência...

Sempre na Memória


Aqui me tens, irmão, em presença forte,
para com gáudio versejar, que haja sorte!
Que este Bardo a uma chamada não falhe,
mesmo quando já abafado se emortalhe!

Para sempre a memória se vincou fundo
naqueles dias vividos na Huíla tão querida;
na Terra doce que nunca será esquecida:
Humpata, para mim o centro do Mundo!...

Os Mosquitos


"Portuga " para Angola foi
de repelentes carregado;
de mosquitos tinha medo,
mais que de marrada de boi...

De lá veio com os frasquinhos
guardados, bem fechadinhos,
intocados, virgens de utilização.
Os mosquitos, não viste? - Não!...

vergonha...


Saiu o matumbo do Kimbo,
convidado p'ró restaurante;
mas era na embala grande
e lá... o pobre se perdeu!
Tal a vergonha que lhe deu
que à sua volta bem olhava
e p'los capim todo procurava
um fundo buraco de jimbo...

Destino


Que o diga, a gente da Humpata
como dito me foi pela mais-velha
"virás aqui construir tua cubata",
outra coisa não me dê na telha.

O recado tomo por destino
a cumprir, sem data marcada;
no coração sentido, de menino,
minha seria África, tão esperada!

Sabedoria


Irmão, Sabedoria não m'a invoques,
que tal Virtude em mim não reside;
falta-me comer muitos maboques,
como aprende quem convosco lide...

Se é na soberba que o engano mora,
acolhê-la não a quero em meu peito.
Ensina-me, vamos por essa Huíla fora,
que eu tudo aprenderei a preceito!

Garças?


D. Giraldinus chacota não faças!
"Viangangas" as aves não seriam.
Corpulentas, digo sem chalaças,
não sei se de bem longe viriam...

Talvez do tão distante Humbe,
que de lá trariam muita fome,
e aqui lhes daremos lindo nome:
ou não será 'nancumbecumbe' ?

garganta...


Lá para os lados da Palanca
os homens usavam chapéu;
quem insultou leva desanca,
com a bota se pisa o lacrau.

A mim faz-me falta força tanta,
p'ra corajoso só me sobra lata.
Não penses que é só garganta:
pergunta ao pessoal da Humpata!

Na estrada...


Entre a Humpata e o Lubango,
ouçam o que diz o Zé Kahango
- à beira da estrada eles estão.
Mas eu não falo da Polícia, não!

Bem perto do Polígono Florestal,
lá estão os rapazes, todos os dias;
vão devagar, não lhes façam mal,
continuem a viagem sem tropelias.

Lá na berma da rápida estrada,
estende os braços com o coelho.
Comprando, não vi viatura parada.
Assim, chegará o menino a velho?

(...)

Nessa rectilínea estrada
vai pelo planalto tão doce
passando p'la fonte da Chela.
O Hospital com sebes à entrada
(que já não o é mas antes fosse),
mas que trajectória tão bela!

Numa chimpaca foi onde vi
três lindas garças a beber,
duas maiores de azul cor.
Bela foto quis então fazer,
elas tomaram-se de pudor
e assim nesse dia eu desisti...

Abram alas!


Abram alas, meninos, abram alas,
não percam tempo com as malas!
A caminho da Ceia elas vêem,
trazem tudo o que nos faz bem...

Beleza trazem nos cabelos,
sejam soltos ou apanhados;
(temos de dizer que são belos,
nunca podemos ficar calados...)

De seus olhos chispam doidices,
de suas bocas saem más-criadices,
mas pulam nossos tolos corações.

Ai, que estas meninas, rapazes,
fazem de Maconginos sagazes
grandes totós apaixonadões!...

Recordações da Palanca


Quase que me ia passando
lá na Palanca, almoçando,
com a Malta, que anedota:
a galinha, bem curtidinha,
vinha serrada à maneirinha,
bateu-se com a Rosa Mota!

Pirão como há muitos anos,
mais do que alguns angolanos;
o que falta é a carne seca,
mas não me passo da boneca:
com gindungo a chicha tempero
e assim não haja desespero...

O que nos valeu foi a N'gola,
tão leve que nos consola,
isto não é publicidade;
Está-se tão bem em Angola,
excepto pra quem não é bom da bola:
esta é que é uma grande verdade!

Cheiro


Pois o cheiro mais profundo, meu irmão,
me veio por via outra que não a olfativa,
traído que fui por lusa mucosa sensitiva
que no cacimbo secou; mas não o coração!

Ah! Que bom, meu coração não ser tão luso,
e não ter em tempo seco entrado em parafuso,
deixando no peito os amáveis aromas entrar
e para sempre nele o cheiro dessa Terra ficar!

Tainada


A Malta bem fixe organizou
de surpresa, uma tainada;
e linda a casa nos ficou,
quentinha e abençoada.

Cada um trouxe o que tinha,
quiseram mexer o pirão;
amigos dentro da cozinha,
juntos me aquecem o coração.

Prá mesa a moamba saltou,
a bela Amizade se reforçou
em todo o seu esplendor.

Assim ninguém fica perdido,
todo o caminho faz sentido,
se enche a Vida de Amor.

Poetas do Pastel de Nata


"Óh vates, perdoai-lhe a ousadia
a este pobre bardo que se chega;
donde vem só traz uma azevia
pra onde vai está a pedir refrega.

"Estava degustando o pão de rala
aguardando o gelado de abacate;
saboreara arroz doce com canela
depois d'um "chiffon" de chocolate.

A sericaia trouxeram, sem ameixa;
achou pequena a dose de encharcada;
com um merengue aproveitou a deixa,
logo pediu uma tarte de massa folhada.

O toucinho-do-céu já fora divinal,
de Priscos o pudim trouxe o abade;
dessas artes não provar ficaria mal,
são doces guloseimas sem maldade.

Provara o bolo de mel madeirense
acompanhado por copo de malvasia;
ainda recordava o pastel belenense,
eis quando o desafiou a companhia:

"Abalemos, não é tarde nem é cedo,
rumemos, pra voltar não temos data;
qualquer doce vereis que sabe a azedo
se o comparais a flórido pastel de nata.

"Do Lubango a mais afamada pastelaria,
nas suas mesas acabavam todas as dietas,
as doçuras libertando, em doce fantasia,
Flórida de seu nome, tertúlia de poetas.

Poetas e Vinho


Ouçam, não é parvoíce;
Zé Higino, iconoclasta,
pleno de coragem, disse:
p'ra cear, mesa não basta.

Poetas e vinho se requer,
ou então, vinho e poetas;
os dois, p'ra quem quiser
cear e esquecer as dietas.

Em parceria, quer a malta
degustar, com satisfação;
poesia e vinho fazem falta
alegria trazem ao coração.

Afinal, sempre esses dois
mui bem se completaram;
parelha mas não de bois
unidos o Mundo puxaram...

Bebendo e sendo bebidos,
néctar fluindo nas gargantas;
escorrem versos nos ouvidos
em brincadeira até às tantas.

Já Valério bem dizia
seja de estalo o vinho,
venham Ceias à porfia
e ninguém fica sozinho!

Ao Maneco de Capangombe


De Capangombe os bardos trouxeram
Sonoro e angolano, nome tão badalado;
Com grande descaro tão seu o erigiram
Que logo o Maneco rugiu, afrontado.

Fosse tal ousadia malvada afronta,
De lesa-magestade safado crime,
Vassalagem dos bardos seria pronta
Como pronto será o que se estime.

Pedecabra lesto veio lançar repto
A este nóvel dueto, nada inepto:
"Vejam como descalçam a bota!

"Nós que não gostamos de batota,
Ao melindrado a bola devolvemos
"Capangombeiros? Quais, veremos!"

Maconge


D. Caio César da Silveira o criou,
Da sua fazenda o nome, inspirado;
Eterno elixir da juventude inventou:
Maconge, Reino deveras almejado.

Caminhando sem receio da viagem,
Os ousados bardos vieram, de longe,
Com o fito de celebrar vassalagem,
A prestar ao Monarca de Maconge.

Com a força da Amizade no coração,
Bela, tiveram a Leba por companhia;
De Capangombe vieram, lado a lado.

Pelo mesmo Ideal, outros poetas virão,
Neles renascem os sonhos da Fantasia:
Surgisse Mundo na Igualdade baseado.

O Poeta Valério


Na vasta colectânea foi lesto,
listando bardos de Maconge;
Poeta Valério, bem modesto,
bem sabemos que vai longe...

No seu dedicado interesse,
sempre com lata, lábia e linha:
Mau seria qu'ele não tivesse
sequer direito a uma quadrinha.

Dai-lhe quadras, com vontade
(da minha parte, aí vão três);
Viva a nossa grande Amizade,
sempre viva, sem "porquês"...

Recordemos...


À Ceia de Alte em distinta comitiva
pedecabra foi, ceou e observou;
De pisteiro a apurada visão, festiva,
tudo detalhadamente registou.

Essa tão profunda expedição
esperamos nos seja relatada;
Aguardamos a nobre opinião
p'la malta macongina respeitada.

Se uma crónica acaba, outra começa
Pelas palavras de todos os convivas,
Recordando p'ra que ninguém esqueça;

Mantenhamos pois franca esperança:
Falemos p'ra acordar mentes passivas,
P'ra que se não perca a lembrança!

Amizade


Pensai no que a ceia de Alte uniu:
Laço que não separa hecatombe;
U'a Amizade como nunca se viu:
A dos "bardos de Capangombe".

Rimando a grande velocidade,
Valério vai, com toda a corda:
Vem a torrente da mocidade;
Seu lirismo emoções recorda.

Ligeiro, na sua grande bondade,
Vai longe, este mar de Amizade,
Tal, que não cabe em fotografia!

Cantando entre rosas e nardo,
Viva o entusiasmo deste Bardo
Por nos ofertar sublime Poesia!

Vai a Malta...


Vai a malta p'ra Maconge
atravessando a planura;
vai formosa, e bem segura!

Antecipando o fartote,
a malta vai, de alpergata:
atravessa o campo e a mata;
De cachalote o apetite,
alegre, de kissange e fagote,
cantando sua bravura,
a malta vence a lonjura!

Para Alte vai, à festança,
que está tudo bem preparado,
pelo Soba, com todo o cuidado;
Depois dos comes e viró-vira,
de muito farrar tem esperança,
a malta terá um pé...de dança...;
Maconge, Reino da formosura!

Água e Vinho...


Dá vida ao Guerra, o Frade
com o tinto da poesia -
dom que a água não invade
dom etéreo, noite e dia.

Esta água quem a bebe
sempre curado fica
'té trepa pela sebe
- tal força dá à genica!

"Vai de bata, é o cura!"
grita o compadre doente,
pelo néctar impaciente.

A água mata a secura;
o vinho bom dá paixão,
bom conforto ao coração.

Bardo


Valério bardo me chama
elogiando-me a veia gira.
É certo que tendo a que ama
ao lado, bardo sempre se inspira!

De Bardos tem o Reino fartura.
Este que agora se chega
só quer falar com ternura,
é com amor que se entrega.

Do Lubango a Musa bonita
foi de surpresa que me importou
porque alma gémea encontrou.

Se hoje a Vida é bendita
com os Amigos deste Reino
nunca me faltará o treino...

A Mukanda


Nobre Soba de Maconge,
mukanda Higino enviou;
fosse o Kimbo perto ou longe
prá Ceia todos convidou.

À alentejana cubata
o Programa cá chegou;
a mim, que me não falta lata,
agradecendo aqui estou.

A Paula, que o recebeu,
farta de Beja pacata,
num instante logo o leu.

Com amor e brincadeira,
nos tornam a Vida mais grata,
Amigos como o Vieira.

Santo?


Santo será, mas aturado
pela Santa Paula a que dedica
poemas pela bela inspirado
botou, gostosamente, sem larica.

Mal o citado pé duvidava
este vate pronto botou,
e como Higino desafiava,
em boa hora o "cabra" pasmou.

Sangraram-me na liça os braços,
bem menos que a mioleira,
enfrentando o desafio dos manos;

Depois da refrega, os abraços,
sem desejos de choradeira,
comovidos, sempre humanos!