A Desculpa do Valério

Higino, soba de Faro,
decreta lá das alturas:
"dá ao Valério o preparo
Santa Fátima que o aturas

"Vinho d'um raio d'adegas
na ceia d'Alte regado
que provoca tais refregas...
"Aqui te deixo recado."

"Fátima, vê por quem alinhas,
dá-lhe umas composturas,
aperta-me esse falinhas,
o Valério está de finuras"

"Vejo-o de muito paleio
mesmo acagaçado...
às adegas não veio
mas por mim vai ser caçado."

De tanto se remexer
no mosto da casta do vinho
que remédio, eu alinho."
Vamos ter de andar a escolher."

Gosto desse povo lhano,
da cozinha com poejos,
de melhor vinho e queijos.
"Qual o mosto alentejano."

D'adegas e d'iguarias
há até um proceder,
na mesa do melhor porias
"Que ele bem goste de beber."

Diz o Higino: "c'um catano!
como vamos escapar
de neste prélipo não guiar
eu, ele e o Zé Frade, o mano."

"No meio de tanta prova,
Do Zé Frade não saberei
como evitar a sova...
Com Santa Paula falarei."

"Por causa de uma boa casta
sairemos do ramerrão,
as Santas levam a pasta,
lá mais p'ra frente no verão."

"A questão é como ficarei...
com tanta prova concedo,
já o vinagre não é azedo,
mas o Valério rebocarei."

"Ó Fátima, dá-lhe uma mão,
p'ra que ele se aperalte,
não seja como em Alte,
afina-lhe bem a degostação."

"Trata-o com gosto e rigor,
não o deixes à mingua...
aveluda-lhe a lingua,
pois vai sair daí um provador."

"O que lhe deres não seja pouco
porque se não gerar um douto
ou teremos um trovador
ou uma barriga de tambor."