Trovas do Exílio - V

Sempre eu cuidei, ó Grão-Duque poderoso
que, para as coisas da nossa gente,
eu estaria sempre lesto e operoso
a fazer estrofes, onde a poesia em corrente
fale das alegrias ou do caminho doloroso
que connosco vai seguindo obediente.
Assim do Reino cantarei o novo e o velho
como no Lubango ensinou D. Rui Coelho.

Na matutina luz, o Visconde de Maconge fazia
os Macongíadas de ilustre fama
enquanto a lua no céu da Huíla aparecia
aquecendo os corações em cálida chama.
O estudante da capa na noite surgia
para fazer uma serenata à meiga dama
que no colégio olhava da janela
para o Cristo-Rei, guardião da Chela.

Já pelo ar a imagem huilana bem voava
para no écran fixar a benesse
que o macongino no coração levava.
Com o olhar solto que não falece
a magia explode e o encanto ousava
colocar onde o pinheiro se enrijece
o mutiáti, a mupanda e o imbondeiro
e do manhéu o forte cheiro.

E disse mais D. António naquele momento
ter vendido por 17$50 o seu casaco santo
para poder ir à primeira Ceia, e o pensamento
refugiou-se no velho Liceu sacrossanto
onde as carecas dos caloiros doutro tempo
gemiam ao jugo dos veteranos de negro manto.
Viva a malta do chicoronho Liceu!
Viva a malta desse sonho que se não perdeu!

A noite ia passando, na festiva rota
com alegria de saudade misturada
por acharem os maconginos a terra tão remota
a nossa Huíla há tanto tempo abandonada.
Qualquer então consigo cuida e nota
ser caprandanda gente no Puto exilada
esta que aqui e agora canta e bebe
o vinho que desta terra gentia bem recebe.

Os filhos e companheiros de Tebano
que tão diverso néctar nos deixou
ouviram de seguida o discurso ufano
de quem palavras duras arremessou.
A Grã-Duquesa quebrara o "silêncio" insano
que o protocolo desde há muito fixara:
Pelas mulheres maconginas foi exigindo
que o facho do amor a todos fosse unindo.