Trovas do Exílio - III

De Coimbra a Musa partiu a exercitar-se
nas Terras Altas da huilana Minerva
e do Mondego fez passar-se
a pisar da Planalto a fértil erva.
Quanto pode do Choupal desejar-se
tudo o soberbo Apolo ali reserva.
Aí as flores são tecidas a ouro
e o capim é sempre verde louro.

Nobres sobados o chicoronho edificou
chitacas, arimbos mui seguros,
e quase o Reino todo transformou
com edifícios grandes e altos muros.
Mas depois que o Feiticeiro da Guerra cortou
o fio de seus dias já maduros,
foi-se a Terra, veio a fuga desordenada
e para a hispânica eira foi de abalada.

Nunca com outras Razias gente tanta
veio o lusitano campo enchendo.
E o Reino de Maconge os Deuses ora espanta
por a todos unir num abraço estupendo,
a huilana gente do bárbaro fugindo levanta
a tocha arrancada ao abraço horrendo
da Morte. Ao longe o fumo espesso da granada
a esventrar toda a terra civilizada.

Agora que as Ninfas do Mondego se calaram
Se alevantem as Caculovádis1 da Morte escura
Pois as lágrimas choradas se transformaram
Por memória eterna, em fonte pura.
O nome lhe puseram, os que por ali passaram
de Senhora do Monte, que inda dura.
Vêde que fresca fonte rega as raízes
dos Maconginos, mortais felizes.

E vale a pena cantar o poderoso Reino-Império
que das terras de Maconge ao Cuanhama
D. César da Silveira sem vitupério
conquistou com garbo e gloriosa fama.
Vós, poderoso Rei, que do assento etéreo
onde subiste, a bênção sobre nós se inflama,
Vêde dos chicoronhos feitos valorosos
entre caputos feros e numerosos.

Os Sobas e os Lengas lembrados
que, do Austral planalto huilano,
por rios nunca dantes atravessados
passaram para além do mato africano
em feitiços e macas esforçados,
mais do que aguentava o querer humano,
e entre lusitanas gentes edificaram
Novo Sobado, que tanto sublimaram.

E também as lembranças gloriosas
daqueles pioneiros que foram calando
a sede da bulunga que em terras grandiosas
do Lubango e da Chibia andaram devastando,
e aqueles que por ressacas famosas
se foram da Lei da Morte libertando.
Cantando espalharemos por todo o lado
se a tanto nos levar o poético brado.

Cessem do tripeiro ferino
as brutezas grandes que houveram.
Cale-se dos alfacinhas e do coimbrão ladino
a fama das tradições académicas que tiveram,
que nós cantamos o peito ilustre macongino
a quem Baco e Cupido obedeceram.
Cesse tudo o que a Musa portucalense canta
que Outro clamor mais firme se alevanta.

Eis que o Novo Rei se mostrou
D. Saraiva de Oliveira, o primeiro
deste nome que ao Reino adiantou
colocar no caminho verdadeiro:
do tempo do Caprandanda já cantou
a tradição do Macongino inteiro.
O Soba de Aveiro e o Barão do Tchimpumpunhime
ousarão aumentar o Reino para lá do lime.

E o poderoso Rei, a quem do Planalto puro
foi da mapundeira tradição concedido
impor ao macongino povo seguro
nobres títulos que o farão conhecido
em todo este Continente duro.
E com seu porrinho real e temido
na magnífica Ceia investiu os novos sobados
aos filhos da Huíla nobilitados.

E disse: Ó macongino ousado, mais que quantos
no mundo souberam fazer académicas cousas,
tu, que por baptismos afogados, tais e tantos,
e por julgamentos vãos nunca repousas,
pois as sagradas cerimónias e quebrantos
como carrasco investir ousas,
que há tanto tempo o caloiro teme
que ainda não o sendo, já geme.

Pois são tão importantes os segredos escondidos
da nossa gente e do seu grande alento,
a nenhum outro humano concedidos
de nobres e de imortal merecimento.
Que os cavaleiros desta távola sejam espargidos
com o nompeque perfumado do sentimento
para poderem cantar a Huilana Terra
lá longe ferida por fratricida guerra.


1 Ninfas do Caculovar