Trovas do Exílio - I

Eis o Grão-Soba que na embala primeiro
habita, o Vice-Rei de Maconge em iluminada
sala observa e ao bardo macongino, por inteiro
lhe narra os feitos da invencível armada
que em outros tempos o Cunene viu fragueiro.
Dos mundimbas se ouviu a poderosa batucada
lá na Oncócua feudo da alvoroçada gente
que se estende pela savana até ao Oriente.

Se os velhos pioneiros que andaram
tantas terras para verem os segredos delas
no florido planalto da Huíla se ficaram
por certo nós hoje faremos dos sonhos as velas
que com o vento da tradição se insuflaram.
Rumaremos às novas gerações e as virgens telas
pintaremos em chicoronhas tonalidades
a História feita em angolanas idades.

E deu-me o Vice-Rei do seu trono licença
para narrar em verso bem acabado
o famoso acontecimento que sem detença
faço agora de ricos versos adornado.
Do Dongue, seus vassalos de fortuna imensa
foram feitos sobas no mungambo condado.
O ilustre Muhona feliz bem recebe
enquanto a turba contente come e bebe.

A batucada foi tão forte que usada na guerra
ao inimigo os mungambos fizeram dano;
e assim, não tendo já a quem vencer na terra,
vão em grandes saltos acometendo o oceano
de capim que s'espalhando até à finisterra
faz da chana a pátria eleita do africano.
E já se vê de ceptro sobal, maboque e piteira
o Soba Donguense D. Carlos Marques Vieira.