Na Ceia de Maconge

I
Pedi aos deuses da Mitologia,
Implorei protecção das musas belas
E Vénus disse que me socorria,
Dando-lhe a Inspiração de mil estrêlas;
Júpiter também disse que me abria
Do seu castelo as portas e as janelas,
Concedendo-me assim lá de tão longe
Falar ao rei sublime de Maconge.

II
Eu, confiado espero ter a sorte
Daquela inspiração que é meu desejo,
Se não naquele reino haverá morte,
Haverá maldição... haverá pejo,
O Olimpo sofrerá um duro corte
Porque Vulcano enfim terá o ensejo
De alastrar tal incêndio temeroso
Que até o deus dos deuses põe temeroso.

III
E Marte em quem a esperança mais palpita
Despejará também enormes lanças
Na própria residência onde ele habita,
Ver-se-ão fugir as deusas e crianças
E lacrimosa a face tão bonita
De esbeltas musas, meigas e tão mansas...
E até Baco medroso e com espanto
Deixará o Olimpo e o vinho a um canto.

IV
Nereidas, dai-me pois o vosso auxílio
E concedei-me os méritos de um monge
Para poder entrar no domicílio
Onde se encontra o reino de Maconge;
Dai-me uma inspiração como no exílio
O que canta saudades lá de longe
P'ra que ou possa p'r'o reino Macongino
Ser amplo na ideia... ser ladino.

V
Eu falo ao rei e à grande corte inteira,
Ao trono de Maconge cuja c'roa
É de D. Caio César da Silveira,
E a toda sua gente, gente boa;
Vou exaltar-lhes de qualquer maneira
A sua obra que não gira à toa,
Vou recordar passagens do reinado
E alguma coisa que já tem passado.

VI
Oh nobres e varões do grande império
Que os povos de tão longe receberam:
Gente do novo Ulisses culto e sério
Que nunca o vosso trono esqueceram,
O vosso nome chega até ao etéreo
E as conquistas que nunca pereceram
Também são conhecidas não pequenas
Por raças amarelas e... "morenas".

VII
Bem sabemos que sois conquistadores,
Pois vossa fama voa pelo mundo,
Conhecemos os feitos sedutores
E o vosso heroísmo tão profundo.
Vos sois ainda mais nobres e maiores
(Porque muito bem sei em que me fundo)
Do que muitos guerreiros triunfais
Porque vós além deles, fazeis mais.

VIII
Tende um pouco de afecto e de carinho
Nas conquistas que são tão violentas,
Vosso dardo atirai-o devagarinho -
Não vá ele fazer feridas sangrentas,
E, se puderdes, cacem o "pombinho"
Evitando outras cenas mais cruentas,
Pois nós temos por um dom mitológico
Licença p'ra fazer jardim zoológico.

IX
E se os meus rogos não possam mover
Do vosso trono tanta majestade,
Deixai-nos qualquer caça p'ra abater
Pois o filho de Ulisses tem saudades
Daquilo que ele não pode esquecer,
Mesmo quando já tenha longa idade,
E vereis que vos deixamos espantados
Por sermos como vós uns bons soldados.

X
Como na corte Olímpica existe
Na vossa une olhares meigos e amenos
Que a tentação não pode... não resiste
De se prender por certos ares morenos,
Nenhum de vós tem um aspecto triste
Ou gesto de alegria ainda pequenos
Pois até o soberano, ouvi dizer,
Por estes arredores se quis perder.

XI
E não sei se por mal ou por verdade
É fama que outros entes maconginos
Vagueiam altas horas p'la cidade
Como doidos e autênticos p'regrinos
E outros enfim que buscam a saudade
Num desabafo entregue aos seus destinos,
Apenas com um olhar sentimental
Mostram do coração o grande mal.

XII
E de noite melancólicas canções,
Que têm qualquer estro domador,
Junto das musas mostram afeições
Do vosso reino tão conquistador.
O próprio rei não falta nos serões
Entregues ao domínio do amor
E essas musas e moças que são belas
Sentem paraíso nas janelas.

XIII
Com certeza que Vénus ofertou
Ao vosso reino nobre dom amoroso
E tanbém com certeza que implorou
A protecção de Júpiter grandioso,
Pois Cupido por vezes já chorou,
Apesar do seu reino ser pomposo,
Porque Maconge a ele já suplanta
No amor que a sua corte tão bem canta.

XIV
Óh Maconginos felizes ofertai-nos,
Ao povo que eu represento e está longe,
Oh rei poderoso que és tão grande pai
(Como Júpiter no Olimpo és em Maconge)
Ofertai-nos também musa e dai-nos
O poder, a graça e um ar que não foge
De nos dar os motivos e direitos
De sermos, como vós, senhores perfeitos.

XV
Pois breve está de nós a nossa ida
P'ra outros sítio, p'ra outras regiões
E não temos sequer lembrança querida
Que mais tarde dê luz aos corações -
Apenas uma hora inesquecida,
Horas que vão passando aos trambolhões
Marcam enfim qualquer recordação
Como de tarde a branda viração.

XVI
Nós queremos, Maconginos, que uma sorte
Florida e de mil cores vos vá cercando,
Já que nós somos barcos em ter norte
A vaguear nas ondas, como errando;
Nós também queremos que essa feliz corte
Cada vez melhor se vá orientando
No sentido da busca mais feliz
E de outras coisas que aqui não se diz.

XVII
Vamos deixar-vos por cerca de um ano,
Curta separação... pequena ausência
Que pode ser o tempo de um engano
Ou tempo de obter muita experiência,
Pois durante esse tempo um bom humano
Pensamento não esquece esta excelência,
Onde viemos ter, como em romagem
E onde vimos boa camaradagem.

XVIII
Quando voltarmos, pois sempre aqui virão
Como sempre os nossos representantes -
Do nosso polo, da nossa habitação -
Terão neles amigos concordantes
Que em chegando a esta ignota região,
Em alegria - feras incesantes,
Já conhecem o seu belo destino
Privando com o reino Macongino.

XIX
Acabo com os votos mui leais,
Oh rei César Silveira, óh corte inteira,
P'ra que as felicidades sejam mais
E p'ra que a corte seja prazenteira
De nobres elementos tão reais...
E p'ra que em tudo, de qualquer maneira,
Se conheça distante, perto ou longe
Que aqui triunfa o reino de Maconge.