A Ceia de Setúbal em 2005

Estava a sadina mulola posta em sossego,
gozando dos seus anos o doce fruto,
eis senão quando, surge o desassossego:
de acordo com os preceitos do Estatuto,
que saíssem os Maconginos do aconchego:
convocados eram, para Ceia de bom conduto.

Para tanto, D. Necas mukanda "e-meilou",
que aos kimbos de todos chegou.
Far-se-ia em Maio, no dia vinte e oito,
n'"O Quintal", restaurante a preceito.
Se o Nobre Soba assim convocou,
logo toda a Malta se preparou.

Na aprazada data, foram chegando à sanzala grande,
pouco a pouco, de distantes kimbos vindos;
clero, nobreza, plebe, a ordem pouco importa,
de todas as origens, são sempre bem-vindos;
neste Reino, todos entram pela mesma porta,
nele vivendo, o coração da Malta se expande.

À chegada, Suzete todos prontamente acolhia,
os Maconginos brindando com toda a sua simpatia.
Professores, Grã-Duquesa, da Academia o Presidente,
Conselheiros de Estado, Nobres, todo o Clero presente,
Mascote do Reino e Nina do Otchinjau, homenageada,
todos se congregaram, todos responderam à chamada.

Muitos mais que à mesa sentaram
de perto ou de longe vieram,
todos gostámos de nos ver;
mas que gira tradição,
que antes da confusão,
nos dá gente a conhecer.

Dirigido pelo Cardeal D. Adrega,
foi o vinho, no ritual da adega,
ruidosamente abençoado,
estando o Clero inspirado:
p'ra ser um bom Macongino,
saibamos se 'habemus vino'!

Começando os ditos e mexericas,
dos não-nobres, entendidos futricas,
estava bem festivo o ambiente;
entretida assim esteve a gente
que não deu por mal empregadas
as sopas, inda que vindas demoradas...

Iniciado o lauto repasto e as conversas,
sôfregos de Amizade mais que de alimento,
logo as tristezas da vida foram dispersas.
Desta energia se movem amorosas almas:
tendo nos corpos o pretexto do sustento,
amando, têm na Vida forças e calmas.

Pelos ausentes em parte incerta,
e decerto presentes nos corações,
cumpriu-se um viró-vira, silencioso.
História longa não pode ficar deserta;
dos exemplos faremos nossas orações;
Maconge têm memória, é respeitoso.

Seguiu a Ceia o seu sentido,
tendo todos comido e bebido;
tudo o que a cabeça esquecer,
para o ano se vai reviver;
na deste ano, em Setúbal,
houve rica parte cultúral.

Despachadas as sobremesas, pela rapaziada,
o Soba, inteligente, breve discurso proferiu,
e não obstante não ser de grande prosa,
conseguiu que por entre a conversa afiada,
a alegre Malta, bem disposta e mui generosa,
desse atenção quando a Poesia ao palco subiu.

Declamados com o ardor do coração,
poemas de poetisas e poetas do Reino,
calados todos ouvimos, com emoção,
- ao cronista desculpem o aparte:
os versos sabem ler, sem treino!
-Haydée, Teresa e Valério, deram-nos Arte.

Tesouros das mais puras histórias,
os seus gloriosos poemas-memórias,
"Nina do Otchinjau", Maria da Paz,
a que neste dia oitenta anos perfaz,
flor em lindo esplendor rodeada,
foi nesta Ceia a homenageada.

Valério trouxe a voz da "minina":
leu a maravilhosa "frôre" da Nina,
que nos fala do capim "esprantado",
por Deus em Angola, por todo o lado,
que Maria da Paz a D. Pipo dedicou.
Depois, este "os capim do mato" cantou.

Estando a noite já madura,
aconteceu muito bom fado,
de Coimbra os belos hinos,
na voz do nosso D. Morgado,
poderosa e sem tremura,
encantando os Maconginos.

Com o obrigatório Malaquias Barbeiro,
abriram a rapsódia o Joelson e o Rocha,
da alegria da Malta acendendo a tocha,
logo logo todos cantavam no terreiro,
estava no auge da Ceia o convívio
- se quiseres saber como é, vive-o!
...

Resumamos a cena da Ceia
que o historial já vai longo;
porque é que não sai da ideia?
haverá em Setúbal milongo?
...

Cumprimos assim os ditames do VEXA Sobado de Setúbal para não sairmos vexados...
(e assim já podermos beber a garrafita de tintol sem rebates de consciência...)

Glosando (com toda a lata...) Camões no arranque na dita crónica,
secretariados por pedecabra,
humildemente cronicaram os bardos de Kapangombe.

Se houve algum erro ou imprecisão,
não foi por maldade, não;
de doses assim, tão intensas,
ficam as encomendas suspensas!